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25 de nov. de 2010

Aeroportos americanos apertam segurança e testam paciência dos passageiros


Nove anos depois dos ataques de 11 de Setembro, os Estados Unidos estão a intensificar as medidas de segurança nos seus aeroportos, o que está a ser um teste à paciência dos passageiros e a levantar dúvidas sobre violações da privacidade

Desde o início deste mês, 68 dos 450 aeroportos americanos começaram a usar máquinas de raio-X que revelam imagens dos passageiros de corpo inteiro, como se estivessem nus. Os viajantes que recusarem passar por este processo, têm duas alternativas: ou aceitam ser revistados de forma detalhada pelos agentes de segurança nos aeroportos – que estão autorizados a apalpar em torno dos seios e na zona genital –, ou deixam de viajar.

O governo americano, através da sua agência responsável pela segurança nos transportes, a Transportation Security Administration (TSA), diz que estas medidas são necessárias para detectar explosivos não-metálicos escondidos no corpo, e prevenir ameaças terroristas como a que ocorreu no Natal do ano passado, quando um homem de origem nigeriana a bordo de um voo para Detroit trazia uma bomba na roupa interior. Mas as novas regras estão a gerar protestos de grupos e associações de passageiros, que as consideram excessivas e invasivas.

Nas últimas três semanas, a American Civil Liberties Union, uma organização de defesa dos direitos dos cidadãos, recebeu mais de 600 queixas de passageiros que dizem ter sido submetidos a revistas humilhantes em aeroportos. Um homem de 61 anos que sobreviveu a um cancro da bexiga diz que o saco que usa para recolher a urina se rompeu e espalhou-se na sua roupa quando foi revistado de forma agressiva no aeroporto de Detroit. John Tyner, um programador informático de 31 anos, filmou um vídeo no aeroporto de San Diego, em que um agente de segurança lhe explica o procedimento que vai seguir para revistá-lo. Tyner disse que mandava prender o agente se ele lhe tocasse nos genitais. Foi impedido de viajar e poderá vir a pagar uma multa, mas tornou-se um herói nacional, um exemplo de resistência.

Vários grupos organizados de passageiros contra o uso do sistema surgiram nas últimas semanas de forma espontânea e lançaram uma campanha na Internet apelando ao boicote. O dia de ontem, véspera de Thanksgiving (Acção de Graças), feriado nacional, é um dos períodos do ano em que os americanos mais viajam para estar com a família. Estes grupos organizados pediram aos passageiros que recusem ser examinados pelas máquinas de raio-X e escolham antes as revistas manuais, de forma a atrasar o processo de triagem nos aeroportos, o que ameaçava atrasar o check-in. E há pessoas que desistiram de viajar de avião e optaram pelo carro ou pelo comboio.
Um método “agressivo”

Brandon Macsata, director executivo de uma associação de direitos dos passageiros aéreos baseada em Washington, disse ontem ao PÚBLICO que as novas medidas “violam os direitos constitucionais” dos cidadãos “e não fazem muito para melhorar a segurança”. “Somos o único país que usa estes scanners corporais avançados, e as revistas agressivas a que agora estamos sujeitos não são usadas em países como Israel, que só examina os passageiros se tiver suspeitas fundadas.”

Nos Estados Unidos, a triagem é aleatória. “Não vejo por que razão todos os passageiros devem ser tratados da mesma forma. Não vejo por que é que uma avó de 80 anos deve ser revistada. Não é o tipo de pessoa que vai fazer explodir um avião. Neste país, um polícia só me pode mandar parar na rua e revistar se tiver justa causa. Por que havemos de deixar a TSA fazer isso, escolhendo pessoas ao acaso?”

Macsata diz que no fim-de-semana foi sujeito a uma revista “agressiva” quando regressava de Miami. “Como alguém que viaja mais de 100 mil milhas por ano, posso dizer-lhe que não me senti mais seguro depois de ter passado por aquilo.”

Existem dúvidas sobre o nível de radiação emitido pelas máquinas de raio-X dos aeroportos. Um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia, em São Francisco, alertou para eventuais riscos de saúde e identificou grupos de pessoas que devem evitar os scanners, incluindo idosos, pacientes que estão a receber radioterapia para tratamento de cancro e pessoas com sistemas imunitários fracos, como Macsata, que tem VIH-Sida. “Quando me seleccionaram para a máquina de raio-X, informei-os de que tenho uma condição médica que me impede de passar pelo processo, por isso tive de me submeter à revista manual.”O PÚBLICO falou com alguns passageiros no aeroporto Ronald Reagan, em Washington, na quarta-feira à tarde. Nenhum deles tinha sido submetido às novas medidas de segurança. Mas Catherine Madrid, 52 anos, que viajara desde Los Angeles, tem dúvidas sobre um sistema que revista mulheres idosas. “No outro dia, ouvi dizer que uma senhora teve de tirar uma prótese no aeroporto. Parece-me extremo e um pouco desnecessário. Provavelmente existe um grupo de pessoas que corresponde mais ao que eles procuram.”
Catherine defende uma solução semelhante à que existe em Israel. Pessoalmente, a hipótese de ser sujeita a um scanner no aeroporto não a incomoda muito porque, por razões de saúde, está “habituada a fazer radiografias o tempo todo”. “Mas não sei se quero que a minha filha passe por isso desnecessariamente.”

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